Crónica

 

Ainda bem que não são Esperanças

Antigamente, aquela que hoje em dia é a Selecção Sub-21 tinha outro nome… eram as Esperanças. Depois de assistir ao duelo com a Irlanda – que ditou o afastamento luso da fase final do respectivo Campeonato da Europa – fico satisfeito por alguém ter resolvido mudar a denominação da coisa.

Luis Avelãs

A rapaziada que, nos últimos dias, foi humilhada por ingleses e irlandeses pode ser chamada de muita coisa mas, decididamente, “esperanças” é algo que não encaixa com a sua qualidade mas, principalmente, com a atitude que mostraram em campo, com destaque para o que se viu terça-feira no Funchal, diante uma medíocre equipa irlandesa que, até à data, tinha logrado marcar 2 golos em 7 jogos!


 

Chego mesmo a duvidar se alguns dos jovens escalados por Rui Caçador estariam verdadeiramente interessados em atingir o apuramento. É que jogar mal… acontece a todos, agora andar a fazer figura de corpo presente em campo… sucede apenas a quem não lhe apetece lutar em prol do País que representa. E isso, convenhamos, é procupante, pois de certeza que há por aí muita gente à espreita de uma oportunidade que, seguramente, nunca irá aparecer.

Não me parece, contudo, que seja muito grave Portugal falhar o acesso a uma fase final do Europeu Sub-21. Grave, isso sim, é constatar a forma inacreditável como em pouco mais de uma década a Federação Portuguesa de Futebol assistiu, aparentemente impávida e serena, ao desmoronar de toda uma estrutura, de um modelo, que para além de ter produzido resultados excelentes (títulos mundiais e europeus e um sem número de presenças nos principais eventos de todos os escalões jovens), mereceu rasgados elogios de várias nações que, mais tarde ou mais cedo, trataram de copiar as bases que, há uns anos, contribuiram para que Portugal, num ápice, deixasse de lutar por qualificações para Europeus e Mundiais ao nível sénior e passasse a sonhar com a conquista desses títulos.

Tenho a ideia de que o regresso de Queiroz à Federação não será apenas benéfico para a equipa principal. Uma pessoa que começou na formação, que sempre olhou para os jovens como as estrelas do futuro, não poderá assistir (em posição que lhe permite intervir) a esta contínua enxurrada de resultados e opções absurdas, sem fazer qualquer coisa. E sendo certo que o homem é Professor, mas não se chama Bambo ou algo parecido, sei que as mudanças não podem acontecer de um dia para o outro.

Mas, não duvidando que será necessário reorganizar muita coisa, a começar pela revisão do modelo competitivo interno bem como pela “reactivação” dos torneios inter-associações, tenho a certeza que Queiroz, melhor que ninguém, sabe o que pode e deve ser feito para, o mais rapidamente possível, recuperarmos o estatuto de outrora.

E antes que alguém possa vir a terreiro dizer que os sucessos nos escalões jovens possuem um valor reduzido, faço questão de esclarecer que, para mim, o essencial não é ver Portugal mais vezes nas fases finais e a discutir títulos. Isso, por mais que se diga o contrário, será sempre importante, mas fulcral é conseguir, desde cedo, passar uma mensagem positiva e descomplexada aos jogadores. Por outras palavras… de esperança em relação ao futuro. Foi assim, juntamente com o seu inquestionável talento, que cresceram figuras como Figo, Rui Costa, Jorge Costa, Fernando Couto, Paulo Sousa, Vítor Baía ou João Vieira Pinto. Foram educados a vencer e a acreditar que sendo impossível nunca perder é sempre possível ganhar. E com esta “táctica”, alcançaram-se os resultados que todos conhecem…